Aluna do 6º ano trabalha em sua colher de pau durante a aula de marcenaria
Por Maira Attarian, professora de artes do Colégio Micael
Ao longo do 6º e 7º anos, os alunos trabalham com marcenaria nas aulas de artes aplicadas.
No início do processo, cada jovem escolhe um pedaço bruto de madeira, que ao longo do ano será transformado em um utensílio: uma colher de pau, uma gamela, um amplificador de som…
Este ano, decidimos trabalhar com a madeira de uma goiabeira que ficava no jardim de infância e precisou ser retirada por causa de uma infestação de pragas. Assim, ressignificamos aquela árvore, que por tanto tempo nos presenteou com seus frutos, seu cheiro e sua sombra.
O trabalho com a madeira no início da puberdade é extremamente desafiador para o adolescente: a cada encontro na marcenaria, o jovem precisa exercitar sua vontade, descobrir a nova força física que está surgindo em seu corpo e também aprender a ter muita paciência.
O aluno passa muitas aulas realizando a mesma tarefa até alguma forma começar a surgir. São vários encontros cavando, martelando e lixando.
Diferentemente da argila, que pode ser moldada quando ainda está úmida, a madeira exige respeito à sua natureza. É uma troca: a árvore se mostra e o aluno precisa ser o observador. Sua tarefa é perceber o sentido das linhas da madeira, onde ela é mais mole ou mais dura, para assim trabalhar com aquilo que ela oferece.
O aluno artesão também necessita de precisão e atenção. Uma martelada mais forte pode deixar marcas e até mesmo modificar o formato planejado.
Ao observarmos um adolescente trabalhando na marcenaria, percebemos como ele fica absorvido pela tarefa. Todo o seu pensar, seu sentir e a seu querer estão voltados para a ação. Trabalhando, ele esquece de si mesmo e se entrega!
Ao longo do percurso, também vamos avaliando o temperamento de cada um, sua persistência e o quanto consegue ir a fundo para concluir o projeto.
Quase no finalzinho do ano, o utensílio começa a ter sua forma definida. Não é mais necessário o uso da força, mas sim de uma ação quase contemplativa! Com muito carinho, os alunos alisam o trabalho com lixa fina. Essa nova textura vai também revelando o que estava escondido atrás de farpas e talhos.
Os últimos retoques, como o encerar da peça, permitem que o adolescente se encante e reencontre a beleza e os segredos daquela árvore que agora ganha uma nova utilidade.