Por Patricia Beraldo Nora, professora da Educação Infantil do Colégio Micael

Na Páscoa festejamos a morte e ressurreição de Cristo. Para as crianças, o que a natureza nos mostra nesta época são possibilidades reais de transformação: a linda flor que depois de murchar libera sementes que se transformarão numa nova planta, a lagarta que dorme no casulo e se transforma em borboleta ou o milho que estoura com o calor do fogo e vira pipoca. 
É nas imagens que o conceito de morte e ressurreição, ou de uma nova vida, se apresenta, fortalecendo a alma. E, como imagem arquetípica, o ovo simboliza a vida, o que está por vir, o recomeço, o germe do novo.
No século IV um sacerdote siríaco dizia: “Como um ovo, abre-se a sepultura… Como sai o pintinho da casca do ovo, assim sai Cristo da sepultura depois de ter quebrado o poder da morte”.
Nas mitologias antigas, o ovo sempre foi um símbolo importante. No Kalevala finlandês, a formação do mundo é descrita a partir do ovo: a casca formou o céu e a parte interna, a Terra; a gema formou o Sol e a clara, a Lua. Muitos povos diziam que ele é a imagem do eterno, da imortalidade e colocavam ovos nas tumbas, junto dos mortos. Essas civilizações entendiam que a morte significa uma transição, o início de uma nova vida para a alma. 
Outro costume antigo era colocar um ovo no berço do recém-nascido, também como sinal de transformação para a nova vida. 
O ovo como imagem de começo foi internalizado pelo cristianismo e relacionado ao maior recomeço da história da humanidade, que aconteceu na virada dos tempos, quando no batismo do rio Jordão o Cristo uniu-se ao homem Jesus de Nazaré. 
Como ser celeste ele sofreu a morte em um corpo físico, mas a superou e agora pode ser procurado e encontrado por qualquer ser humano. Por conta de tudo isso, o ovo de Páscoa não é um ovo comum. Ele é muito especial.
Pergunto: qual o sentido da vida? Estamos buscando o novo, o desenvolvimento, o sentido de nossa evolução nesta existência, através de um caminho interior e das aprendizagens. O verdadeiro ovo de Páscoa é a imagem dessa busca, dessa conexão que precisamos realizar para encontrar o que está escondido. 
O que é essencial na vida não está em qualquer lugar. Desejamos a essência e aguçamos nossa vontade de buscar, de procurar. Esse procurar no ambiente externo ativa o que há de mais profundo em nossa alma. Quando nos tornamos adultos, podemos  refletir no âmbito do pensar sobre todas as simbologias dessa vivência de infância, a procura pelo ovo de Páscoa. 
Para as crianças, fica o mistério de o coelho trazer o verdadeiro ovo de Páscoa. Elas sentem uma satisfação enorme em preparar o ninho para o coelho e manifestam muita gratidão por tamanha responsabilidade desse ser. Como o coelho pode estar faminto, os pequenos adoram deixar em seu ninho cenouras com ramas fortes e um potinho com água. Muitas vezes eles também sentem vontade de fazer um desenho bem bonito para presentear o coelho…
O Domingo de Páscoa coroa tudo isso lindamente. Afinal, é o momento de procurar pelo ovo dourado! Fica a sugestão de escondê-lo em algum lugar especial na casa ou no jardim. As pegadas feitas pelo caminho orientam a criança em sua busca e comprovam a vinda deste coelho tão especial. É um grande presente para as crianças acordar, encontrar pegadinhas pela casa toda e descobrir que o coelho comeu a cenoura e tomou a água do pote (seja um bom ajudante e lembre-se de dar aquela dentada; para produzir as pegadas, use farinha; se o piso for claro, café). Com a ajuda de tecidos e cadeiras, é possível também fazer um túnel que leva ao esconderijo do verdadeiro ovo de Páscoa. 
Termino desejando a você e à sua família um encontro maravilhoso com o verdadeiro ovo da Páscoa.
Referencias bibliográficas:
Festejar as festas no jardim de infância e em casa – Freya Jaffke