
Alunos do jardim despejam no minhocário a “salada das minhocas”, preparada com restos do lanche. O chorume, que os pequenos chamam de água sagrada, é utilizado pelas crianças na horta
Milhares de jovens ao redor do mundo tomaram as ruas semana passada para protestar contra a inércia dos governos em relação às mudanças climáticas, uma ameaça ao futuro de todos nós. A mobilização inspirou muitas trocas em nossa escola. Na quinta, por exemplo, o movimento foi tema de conversa entre os alunos do fundamental 2, durante o encontro que toda semana reúne as turmas de 5º a 8º ano no salão. Na reunião do Conselho de Pais da última terça, a questão do meio-ambiente também apareceu com força. Perguntas como “o que nossa comunidade tem feito pelo planeta?” e “como podemos sensibilizar as famílias para o tema?” enriqueceram o encontro.
Para contribuir com essa discussão fundamental, batemos um papo com Cesar Pegoraro, professor de Biologia do ensino médio diurno, para saber mais sobre as ações de responsabilidade ambiental que o Colégio Micael adota atualmente. “A escola já coloca em prática uma série de iniciativas. Algumas precisam de ajuda, outras deveriam ser melhor divulgadas para as pessoas saberem que elas existem”, afirma o educador, especialista em gestão participativa de recursos hídricos e que também faz parte da equipe da Fundação S.O.S Mata Atlântica. Leia a seguir os principais trechos da conversa:
Texto e fotos | Katia Geiling
Coleta seletiva
“O 9º ano de 2018 desenvolveu um trabalho muito interessante sobre esse tema. Tudo começou ainda no primeiro semestre, quando a professora Gisele, que lecionava Biologia no ensino médio, perguntou aos alunos quais as questões que os incomodavam na escola. A gestão de resíduos foi um dos pontos levantados. No segundo semestre, quando passei a dar aula para essa turma, sugeri que eles realizassem um diagnóstico da coleta seletiva em todo o colégio. Expliquei que num projeto como esse é preciso também ouvir quem maneja os resíduos. Fizemos uma grande roda de conversa com os funcionários. Eles deram uma aula e explicaram tudo o que a escola já fazia nesse sentido. Começamos a refletir sobre os materiais que consumimos e que, antes de destinar algo para a reciclagem, é preciso pensar no que dá para reduzir ou reaproveitar. As salas de aula já contavam com lixeiras para separar o material orgânico do reciclável, mas o 9º ano criou plaquinhas novas para melhorar a comunicação sobre isso. Os alunos conversaram com os colegas do então 7º e 8º anos, para garantir que o projeto tenha continuidade no futuro. A escola agora contará com lixeiras apropriadas para separar o material orgânico do reciclável também nas áreas externas. Elas estão prontas, falta apenas finalizar as plaquinhas para identificação dos resíduos. Com todo esse movimento, este ano a gestão de resíduos virou um ponto fixo na reunião semanal do corpo docente. Isso tem reverberado também entre os funcionários, que são nosso termômetro. Quando eles notam que algo em relação à separação dos resíduos não está em conformidade em algum local da escola, logo me avisam.”
Minhocários
“A escola tem seis atualmente. No ano passado surgiu a proposta de torná-los mais vivos na sala de aula e de transformar as minhocas em ‘bichos de estimação’ das crianças. Esta semana faremos uma conversa com os alunos do fundamental 1 e 2, durante o salão de cada grupo, para explicar como funcionam as casas das minhocas, falar do húmus e do chorume, os produtos que elas devolvem para a gente, e de nossa responsabilidade como produtores de resíduos. Muitas salas hoje têm um baldinho onde os alunos separam a comida da minhoca, como restos de frutas e vegetais; cascas de frutas cítricas, alimentos com farinha, sal, alho ou cebola não devem ser colocados no minhocário.”
Composteiras
“Elas geram um insumo bastante interessante para as turmas que estão vivenciando atividades de plantio e que também é muito utilizado em nossos jardins. Temos uma composteira na horta perto do palco e outra nova, bem grande, no canteiro sob o plátano. No ano passado a escola adquiriu um triturador para aprimorar a compostagem. Operado pelos funcionários da manutenção, o equipamento pica galhos e folhas, acelerando muito o processo. A questão é que só podemos dinamizar folhas e restos de podas nessas composteiras. Resíduos orgânicos, como restos de comida, atrairiam ratos. Comecei a avaliar a possibilidade de adotarmos uma termo-composteira na escola, onde daria para colocar tudo. A gente separaria os resíduos nobres para as minhocas e levaria todo o resto para lá: de sobras de marmita a cascas de cítricos. A ideia é enviar cada vez menos resíduos para os aterros e manter os nutrientes todos aqui no nosso solo. Se tudo der certo, a meta é que a gente só produza como resíduo o papel higiênico dos banheiros.”
Cisterna
“Temos uma enorme. Fica em frente ao prédio do salão do fundamental. A água da chuva captada é utilizada em descargas, nas regas das plantas e até para garantir uma reserva para o corpo de bombeiros. Existe um projeto para ampliarmos os usos dessa água. O regime de chuvas está interessante este ano.” [De acordo com a administração escolar, nossa cisterna tem capacidade para 47 mil litros. Ela supre uma semana de uso nos banheiros e na limpeza da escola.]
Biodigestor
“Ele trata nosso esgoto, gerando o biogás, ainda não aproveitado pela escola, e o biofertilizante, que é infiltrado no jardim de papiros e helicônias localizado atrás do salão do ensino médio. O biodigestor do colégio teve um problema ano passado, precisa de reparos. Um amigo meu, especialista no assunto, está disposto a ajudar.”
Copinhos de papel e outras propostas
“Desde 2017, o Micael aboliu os copinhos de plástico e adotou os de papel, facilmente decompostos na natureza. Isso não nos tira a responsabilidade de tentar produzir cada vez menos resíduo e, por exemplo, procurar trazer uma caneca de casa em dia de reunião na escola. A Denise, da biblioteca, levantou outra possibilidade muito boa: a de criarmos uma parceria com uma empresa que coleta canetas e esponjas de louça usadas, materiais difíceis de serem reciclados. Essa empresa pagaria a remessa de material que faríamos para eles. E ainda podemos indicar uma instituição para receber os créditos gerados a cada envio. Pensamos em cadastrar a ACOMI no programa. O assunto já foi encaminhado para a Conferência Interna.”

O professor Cesar e alunos do atual 9º ano