
“Quando cheguei ao Micael, em 2018, a escola já tinha alguns minhocários: um no ensino médio, dois no fundamental e três no jardim. Todos estavam ativos, mas eram pouco utilizados. Em dado momento, um grupo de alunos do 9o ano teve a ideia de revigorar o uso do minhocário que existia no ensino médio. A proposta se tornou um projeto que tem envolvido a escola inteira.
Inicialmente, avaliamos nosso potencial: tínhamos necessidade de mais minhocários e conseguiríamos mantê-los? Chegamos à conclusão que sim. Primeiro, pelo tipo de alimento que se consome no Micael – muitos são potenciais “comidas de minhoca”, como verduras, legumes crus e frutas; depois, pelas possibilidades pedagógicas que surgem quando se tem um minhocário na sala de aula.
O segundo passo foi levar para a reunião de professores não apenas a ideia, mas o próprio minhocário. Assim, eu e a Alessandra, professora de biologia do noturno, desmontamos um para que todos pudessem ver como ele é por dentro. Aproveitamos para falar a respeito das minhocas e das reflexões que elas podem trazer quando olhamos com carinho para o pequeno ecossistema criado no local onde elas vivem. A minhoca pode ser um bicho de estimação capaz de consumir uma parcela dos resíduos orgânicos que geramos e tem grande potencial de integrar uma solução ambiental para o nosso planeta.
Após essa exposição, levamos a discussão para as turmas de ensino fundamental, refletindo a respeito dos resíduos que produzimos, de quais deles nós mesmos podemos cuidar e para quais conseguimos dar um destino, encontrar uma boa solução, por meio do contato com as minhocas, tanto em casa quanto na sala de aula.
Na etapa seguinte, os alunos participaram de uma oficina de separação de resíduos. Eles concluíram que resíduos sólidos podem ser enviados para reciclagem – se não conseguirmos aproveitá-los para nenhum outro fim dentro da própria escola – enquanto grande parte dos resíduos orgânicos pode ser dada às minhocas. Essa atividade sensibilizou bastante os alunos para a questão do lixo em geral e dos minhocários em particular.
Como consequência dessa vivência, passamos a produzir com os próprios alunos novos minhocários para a escola. Primeiro com as turmas do ensino fundamental, que montaram dois para as entradas do prédio delas e dois para salas de aulas.

O professor César ensina alunos do 2º ano a montar um minhocário
Em seguida, o processo ocorreu com as crianças do jardim, que ajudaram a produzir uma casa de minhocas para o maternal. No caso do ensino médio, retomamos o minhocário que já havia ali, e agora os alunos estão aprendendo a manejá-lo.
Com todo esse fomento, em breve teremos muitos minhocários para cuidar. Haverá, então, um interessante desdobramento, já que logo precisaremos pensar no que fazer com os presentes que as minhocas nos dão: o húmus e o chorume.
Surgirão, assim, outras atividades e, a partir delas, outro entendimento. Se temos húmus e precisamos pensar no destino que daremos a ele, vamos começar a olhar para as plantas que nos rodeiam. Podemos passar a cuidar dos jardins da escola; talvez até levar uma parte do húmus e do chorume para cuidar das plantas de casa. Se for uma planta de comer, uma parte dela será consumida e a outra, devolvida para as minhocas, fechando um circuito.
Esse processo é uma imitação dos ciclos maiores que ocorrem no planeta: tudo tem um lugar de onde veio e um lugar para onde vai.
Pensar em tudo isso nos torna mais responsáveis em relação aos ciclos naturais. É assim que um simples minhocário gera uma reflexão profunda. As crianças ganham a oportunidade de aprender que as coisas não aparecem no mercado nem somem no caminhão de lixo.
O planeta em que vivemos é fechado, tem ciclos que não podem ser quebrados. Pensar nisso ajuda a mudar a maneira como enxergamos o mundo e nossa relação com ele. Passamos a ser mais vigilantes em relação ao que consumimos, ao que comemos, sob pena de acabar cometendo alguns deslizes ecológicos por falta de atenção.

As crianças acomodam as ilustres moradoras do novo minhocário da escola