Cena do filme O Desafio de Rudolf Steiner

Em 2012, o cineasta inglês Jonathan Stedall lançou o documentário O Desafio de Rudolf Steiner, um mergulho profundo e tocante no legado deixado pelo filósofo austríaco que criou a pedagogia Waldorf. Stedall se dedicou ao projeto durante dois anos. Colheu dezenas de depoimentos de pessoas que vivenciam, na prática, os ensinamentos deixados por Steiner, nas mais diversas áreas, como educação, agricultura, economia e medicina. No mesmo ano em que o filme foi apresentado ao público, a Revista Micael publicou uma entrevista exclusiva com o documentarista, realizada pelo jornalista Gabriel Brigagão Ábalos, ex-aluno de nossa escola.

Neste ano em que celebramos o centenário da pedagogia Waldorf, nada mais oportuno que relembrarmos os principais trechos da conversa entre Gabriel e Stedall, e, claro, assistirmos novamente ao documentário produzido pelo cineasta inglês (acesse aqui a parte 1 e aqui a parte 2)

Por Gabriel Brigagão Ábalos

Por que o senhor decidiu fazer o documentário?
Há muito tempo queria fazer um filme sobre a vida de Rudolf Steiner e seu legado. Em parte como um tributo a alguém que foi uma grande inspiração em minha vida, mas também para poder trazer suas contribuições para pessoas que, assim como eu, procuram um entendimento mais profundo sobre os mistérios da existência e não estão satisfeitas com a polaridade ciência x religião.

O senhor teve alguma ligação com a Antroposofia antes desse trabalho?
Deparei-me com um livro sobre a pedagogia Waldorf em 1961, quando eu tinha 21 anos de idade e trabalhava como editor assistente no Pinewood Film Studios UK. O que eu li me levou a visitar uma escola Waldorf. Depois de outros encontros e de mais leituras, me interessei cada vez mais pela obra de Steiner.

O que mudou na sua visão sobre o ser humano depois de fazer o documentário?
A minha visão essencialmente otimista em relação à vida e à humanidade foi fortalecida e enriquecida pelas experiências que tive durante as filmagens. Acima de tudo, foi para mim uma confirmação de que a humanidade de fato sofre mudanças e de que, apesar do cenário sombrio que domina o noticiário, o mundo está lentamente se tornando mais compassivo e cuidadoso. Idealismo não é  algo ingênuo nem  desperdício de tempo. O futuro está em nossas mãos – e testemunhei muitos pares de mãos trabalhando juntos, tentando mudar o mundo para melhor, um mundo que irá corresponder no futuro ao que vive hoje em todos nós como uma esperança. Para mim, essa energia e coragem estão intimamente relacionadas a uma declaração de Steiner: “Cristo fez do mundo o seu Céu”.

O senhor acredita que os ensinamentos de Steiner podem ajudar a humanidade a traçar um futuro diferente e mais humano? De que maneira?
O que me chama atenção essencialmente em Steiner e em vários outros personagens importantes, como Tolstói, Gandhi e Jung, sobre os quais eu também fiz filmes durante os meus anos na BBC, é que eles oferecem ensinamentos úteis, mas profundamente desafiadores, sobre nosso caminho para nos tornarmos seres humanos mais plenos. Em particular através de Steiner, somos levados a nos tornar mais equilibrados para poder viver criativamente entre as polaridades masculino e feminino, fé e razão, cabeça e coração.  Somos incentivados pelas idéias de Steiner a, acima de tudo, reconhecer o nosso potencial para um saber no seu sentido mais profundo. No entanto, o conhecimento sem compaixão é um caminho potencialmente perigoso. Eu gosto da expressão que ele usou certa vez ao descrever o nosso objetivo final: “tornar-nos indivíduos menos individualistas”.