crianças do jardim do Colégio Micael durante vivência de preparo da tapioca

Após o período Pascal, uma época tão singela e reflexiva, que proporciona tantas vivências internas, podemos voltar nosso olhar para o caminho de desenvolvimento da humanidade, que culminou no processo de ressurreição.

Esse percurso evidencia uma jornada de transformação, na qual nascimento e morte caminham juntos, impulsionando a evolução individual de cada alma.

Adentramos agora o tempo de Pentecostes, outra época igualmente simbólica, que ocorre cinquenta dias após a Páscoa. Para compreender as imagens que Pentecostes carrega, é preciso ampliar o olhar para além da percepção intelectual.

Esse período nos possibilita explorar os distintos povos do mundo, diversas imagens das diferentes falas humanas, sabores e cores, evidenciando o todo e compreendendo que, para a construção coletiva, é preciso a união de cada alma individual, formando assim um grupo.

Vivenciar essa diversidade possibilita aproximar o feito espiritual de Cristo, que permitiu à alma humana reconhecer em si a presença do espírito vivo. Esse reconhecimento das diferentes culturas é manifestação desse Espírito.

Pentecostes nos desperta para a diversidade e singularidade humanas, suscitando diversas questões: como nos reconectamos com os outros? Como tratamos aquilo que é diferente de nós? Como está a nossa consciência perante os diversos povos que existem?

Com esses questionamentos, percebemos o quanto a alimentação é um caminho para o cultivo das relações sociais. Ou seja, participar do processo de preparação do alimento do começo ao fim, onde as crianças consigam sentir com as mãos, com os olhos, com o cheiro… ralando, espremendo, peneirando, esperando… permite que elas experimentem, na prática, todo esse contexto, sem que a gente precise explicar absolutamente nada.

A escolha da mandioca para propiciar esse processo vem do significado que carregamos ao trabalhar com uma raiz que vem da terra, honrando quem plantou, cuidou e colheu. Ao chegar em nossas mãos, iniciamos um caminho que começa ao retirar a casca grossa (que exige muita calma) e separar o que é casca da própria mandioca. A casca vai para o minhocário, e a mandioca, para a bacia.

A mandioca limpa é então ralada. Outro momento que exige muito a nossa atenção. Ralar o dedo, quando nos descuidamos, dói, mas faz parte. E sara. Nesse momento, quando várias pessoas trabalham juntas, o esforço fica mais leve. Assim como quando dividimos as tarefas: o trabalho é feito em menos tempo e é muito mais divertido!

Depois de ralada, ela precisa ser lavada e colocada dentro de um saco com muitos furinhos… e então vamos torcer. Sai uma água amarelada, que vai ficar descansando, de um dia para o outro, numa bacia.

O que sobra dentro do saco vai virar farinha de mandioca! Mas o que decanta e fica escondido no fundo da água que escorreu é algo mágico: uma goma branquinha, com textura muito interessante.
Essa goma será peneirada e teremos muitos grãozinhos.

A beleza disso vem no fim. Esses grãozinhos, sozinhos, separados, não são nada. Só quando vão para a frigideira quente, quando sentem o calor, é que os grãozinhos se juntam e viram um alimento delicioso, que vai nutrir e aquecer muitas pessoas.

Assim somos nós. Quando estamos sozinhos, somos como os grãos soltos. Porém, quando nos reunimos, aquecidos com calor e amor, nos transformamos. Viramos algo maior: uma comunidade. E comunidade é isso: cada um, com seus dons e talentos individuais, unidos em amor, forma um todo capaz de realizar grandiosas coisas.

Pentecostes proporciona essa reflexão, o momento em que, tocados por uma força maior, nos reconhecemos como parte de um todo e descobrimos a alegria e a potência de caminhar juntos.

Uma possibilidade de exercitar um olhar carinhoso para o “eu” alheio, reconhecer aquele outro que não sou eu, um impulso de falar a mesma língua apesar das diferenças, pois a comunidade é o um com o outro.

Essa época nos aponta para o futuro, trazendo forças da estação do outono, como a imagem da semente que germina na terra nessa estação do ano, sendo um período propício para questionar o que queremos cultivar em nós, o que queremos plantar com o outro, para que no futuro possamos ter uma farta colheita.

Com carinho,
Professoras Daniane e Ruana