Ao começar a colocar as cores nas formas descobertas e eleitas, tantas outras qualidades se revelam!

 


Por Vilma Paschoa, professora de classe do 6º ano do Colégio Micael.

Quantas descobertas podemos realizar ao fazer uma construção geométrica! Apesar disso, a Geometria pode ser maçante se não for impregnada pela Arte. E essa ciência é tão generosa, ela se abre inteiramente para a Arte, doando magníficas oportunidades para que ela se expresse. No entanto, raramente as duas se fazem companhia!

Tudo começa com o preparo de todo o material necessário, preparo cuidadoso, meticuloso… Somente com um material adequado pode-se construir as estruturas e fundamentos para que a Arte se expresse.

Em seguida, vem o traçado, leve, sutil. Fazer Geometria é proporcionar encontros: encontros de uma linha com outra linha, encontros de linha com pontos… E tantos encontros surgem a cada traço. Esses encontros, no entanto, precisam ser delicados, nenhum deve prevalecer sobre o outro ou aparecer mais… Todos contribuem para a grande obra e possibilitam outros encontros, para que surjam novas relações. Nesse momento, a precisão é fundamental, os encontros precisam ser exatos, não se pode passar ao largo nem ultrapassar. Muita paciência e sutileza para que a harmonia apareça.

Depois, é contemplar a Grande Obra realizada e perceber, descobrir, perguntar o que ela nos revela. Muitas vezes, são inúmeras formas, combinações e até movimentos! Sim, a Geometria não é a Ciência do que é estático! Ela vive, mas nem sempre mostra essa vida com muita facilidade. É preciso conquistá-la, cortejá-la e tratá-la com muita delicadeza! Elegemos as linhas que limitarão as cores e que serão obedecidas incontestavelmente, ainda que elas desapareçam sob a cor, pois ainda estarão lá.

Escolhemos as cores. Aí vem outro diálogo: quais as cores que se ajudam, que contribuem para a máxima expressão da outra que está ao seu lado? Quais intensidades se combinam?

Ao começar a colocar as cores nas formas descobertas e eleitas, tantas outras qualidades se revelam! É preciso controlar os movimentos da mão e dos dedos, ora pressionar, ora apenas deslizar suavemente a ponta do lápis na superfície, sempre obedecendo os limites impostos pelas linhas eleitas. E, no ato de colorir, de proporcionar esses outros encontros de cores, desenvolve-se um respeito e uma admiração emocionante para com aquilo que vai surgindo, resultado de muitas escolhas, mas também de muita doação. As cores devem se espalhar uniformemente, sem deixar rastros dos lápis, preenchendo a superfície ora com mais intensidade, ora com menos, mas cobrindo todos os espaços escolhidos.

Terminado o trabalho, vem a contemplação… e, junto com ela, o julgamento. Para julgar, é preciso olhar com imparcialidade e atenção. Ninguém precisa argumentar, discutir, concordar ou discordar. Estão ali, reveladas e expostas, as conquistas e os desafios a serem superados.

O trabalho finalizado não mostra a dimensão de tudo o que aconteceu no processo, mas, sem dúvida, é belo. E não termina em si, pois logo surge a vontade de experimentar outras possibilidades, enfrentar os desafios detectados, descobrir novas relações e encontros. Enxerga-se outros ângulos, outras formas e movimentos. Mas fica para outro momento, pois aparece um grande cansaço, aquele cansaço gostoso de quem deu tudo de si e admira o resultado do seu esforço.

Eis o grande encontro da Geometria com a Arte!